terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Prólogo - Noite Sombria

A temperatura havia caído naquela noite sombria. As nuvens acinzentadas encobriam as estrelas do céu, deixando apenas a lua à mostra. O silêncio refletia o medo no coração de Elenwë. Sua capa negra esvoaçava durante a corrida frenética por entre as árvores. A mulher parava constantemente e apertava um objeto de forma retangular que segurava contra o peito enquanto olhava ao seu redor. Estranhas criaturas espreitavam nas altas copas das árvores, se passariam por humanos se seus dois chifres sobre a cabeça e garras parecidas com adagas que saíam de seus pulsos não os denunciassem.

Um dos monstros ergueu a cabeça e fechou seus grandes olhos amarelos enquanto esperava de forma paciente. O vento trouxe consigo um aroma para o nariz da criatura, que sorriu maliciosamente, mostrando seus dentes podres e pontudos. Eis que ele tornou a abrir seus olhos e virando-os para os companheiros, gesticulou com uma das mãos - enquanto a outra se apoiava no grosso tronco da árvore onde estava -, sua ordem era clara.

De imediato, os monstros se jogaram das copas das árvores, aterrissando de forma violenta sobre o chão, e levantando como se nada tivesse acontecido, começaram a locomover a uma velocidade sobre-humana. Mais adiante avistaram Elenwë, que corria o mais rápido que podia.

A mulher não olhava para trás, apenas segurava o artefato que parecia ser tão precioso, quando sentiu um enorme impacto em suas costas, ao cair de barriga no chão, deixou o objeto que segurava escapar. Levou alguns instantes para que ela percebesse o que acontecia. Tentando ignorar a dor, girou o corpo para o lado e chutou o peito da criatura que deu alguns passos para trás, devido ao impacto causado.

Elenwë se levantou de modo rápido e pegou o objeto envolvido em um pano de cor escura, apertando-o contra o peito. Respirando de maneira acelerada, como se temesse aqueles seres repugnantes, ela voltou a segurar seu artefato misterioso com firmeza. Tanto que as pontas de seus dedos ficaram brancas. Ela balançou a cabeça negativamente enquanto recuava a cada avanço dos monstros.

Virou-se para o lado contrário e correu. Fazendo a inútil tentativa de escapar enquanto olhava para trás e os via parados. Então, uma das criaturas correu rapidamente em sua direção e, no momento em que ela virou a cabeça para frente, trombou no ser sombrio. O monstro a segurou pela gola das vestes e ela se debateu sem parar.

O pânico serpenteava por todo o seu corpo, não sabia mais o que fazer para escapar daquelas criaturas. Fechou os olhos lentamente e procurou se acalmar. Abriu-os. Seus olhos verdes agora estavam completamente vermelhos. Uma aura branca se espalhava por seu corpo e com uma explosão de cores, os monstros foram lançados para longe. Algumas árvores que estavam ao redor dela começaram a despencar, espalhando pela floresta um cheiro de queimado.

Esperou um tempo para que pudesse se levantar novamente, tudo ao seu redor começou a girar e as imagens agora não eram mais tão nítidas. Ela tombou e procurou apoiar-se em uma das árvores que haviam sobrado, caminhando lentamente pela floresta. Um dos monstros que havia sobrevivido à explosão avistou-a ao longe, o ódio percorria o corpo da criatura e seus olhos amarelos pareciam duas tochas de fúria.

Ele se levantou e correu na direção de Elenwë, que procurava ao máximo se equilibrar. O monstro se aproximou e a empurrou. A mulher caiu de forma brutal pelo chão e sucos de sangue saíram de sua boca. A criatura se aproximava, caminhando lentamente. Procurando esquecer sua fraqueza naquele momento, ela pôs-se em pé e correu por entre as árvores. Quanto mais corria mais parecia que o caminho não terminava.

As altas árvores da floresta estavam distorcidas em sua visão, ela cambaleava cada vez mais, à medida que corria. Estava ofegante agora. Não sabia por quanto tempo mais poderia agüentar. Seria difícil escapar da criatura e se escapasse, acabaria morrendo de fraqueza por usar inapropriadamente a magia em um momento de desespero. Parou de correr e procurou respirar durante o pouco tempo que lhe restava.

Não importava o que acontecesse tinha que proteger o objeto a qualquer custo. Ela retirou o pano que o ocultava. Era um livro feito de couro, com uma cor marrom. O desenho em sua capa chamava a atenção. Dois dragões formavam a moldura, uma coroa grande encontrava-se no centro da capa e ao seu redor seis símbolos diferentes: uma espada armada em um arco no lugar de uma flecha, e duas espadas cruzadas com três estrelas ao seu redor.

Elenwë passou sua mão delicada sobre a capa do livro procurando senti-lo. Um barulho chamou sua atenção e instintivamente ela olhou para o lado, viu um vulto veloz, passando por entre as árvores e concluiu que seria o último dos monstros. Uma lágrima escorreu por seu rosto. Ela tornou a cobrir o livro e ergueu-o acima da cabeça.

Através de seus lábios, as palavras mágicas foram pronunciadas: Curio bator biteron vrazak lutiorluterin mao frest ga priton trovalend miror detior.

Ao ver a luz azul celeste que envolvia o livro, a criatura procurou apressar-se. Quando chegou a uns cinqüenta centímetros de distância de Elenwë a enorme luz envolveu toda a floresta e quando esta diminui de intensidade, o livro havia desaparecido completamente e a mulher encontrava-se deitada no chão.

O monstro levantou-se enfurecido e caminhou até ela. Estava fraca, mas ainda assim, uma expressão de felicidade tomava conta de seu rosto. Ela gargalhou como se tirasse sarro da criatura e, com uma voz doce e suave disse:

- Tarde demais, se eu não pude protegê-lo, outra pessoa o fará!

O ódio expressava-se através dos olhos amarelos e brilhantes do monstro. Apertou violentamente os punhos, grunhiu e ergueu a mão esquerda de modo que a luz da lua iluminasse sua garra afiada. Sem pena e com satisfação, a criatura cravou a lâmina no peito da mulher, retirando-a em seguida. Sua arma letal encontrava-se manchada de sangue, o monstro lambeu os lábios e direcionou a boca para o corpo dela.

Em seu quarto, Sarah levantou-se rapidamente de seu pesadelo como um mergulhador em busca de oxigênio. Ela respirava ofegante e gotas de suor escorriam por seu rosto. Acariciou os cabelos negros e ondulados por um instante procurando se acalmar e deslizou a mão até a testa. Retirou as pernas de cima da cama de forma vagarosa e apoiou os pés no chão.

Diversas dúvidas haviam sido semeadas em seu cérebro. Por que sonhara com uma cena como aquela?Quem era a mulher que segurava o livro?E o que eram aquelas criaturas? “Foi só um sonho” – pensou – “Mas um sonho muito incomum”.



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