terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Capítulo 2 – Uma fatalidade

Depois de se vestir, Sarah desceu as escadas e saiu de casa, caminhando por sua rua. O céu começava a escurecer e as nuvens acinzentadas, carregadas com chuva, cobriam a lua e as estrelas. Dobrou a esquerda ao chegar ao final da rua e parou em frente a uma casa de tamanho médio que lembrava bastante a dela – se não fosse pelo muro branco e o portão avermelhado. Ela se aproximou da entrada e colocou o dedo sobre a campainha.

- Bem, aqui vou eu – disse para si mesma, apertando o botão.

Ela escutou o ressoar da campainha em um tom baixo, como se viesse dos fundos da casa. Após alguns minutos, ouviu passos apressados em direção a ela. A pessoa parou, fungou e finalmente, abriu. Era a mãe de Regina, Sra. Lima, estava com o rosto um tanto inchado e as bochechas bastante vermelhas, parecia que estivera chorando. Sra. Lima puxou as abas de seu casaco, de lã na cor creme, e abraçou o peito para se proteger do frio.

- Sarah – disse ela passando as mãos sobre os cabelos castanhos e desajeitados. – Que bom ver você – ensaiou um sorriso. – O que faz aqui?

- Vim falar com Regina, ela está?

- Si... – foi interrompida por um grito que vinha de dentro da casa. A mulher apertou os olhos e disse: - Ela está sim, vou chamar. Espere só um minutinho.

Sra. Lima deu as costas e fechou a porta com um baque. A jovem se virou e começou a caminhar enquanto olhava para o céu. Ouviu o ranger do portão novamente e Regina surgiu. Não parecia a mesma garota do colégio, segura e elegante. Estava com um rabo de cavalo idêntico ao de Karina e seu rosto, mais envelhecido, ela aparentava ter uns trinta anos. As pálpebras estavam vermelhas como as da mãe e vestia uma blusa de manga comprida.

- O que você quer aqui? – indagou com a voz trêmula.

- Eu queria conver... – parou, pois algo lhe chamou atenção.

Sarah notou um arranhão no braço da garota e seu olhar se fixou ali. Regina percebeu e puxou as mangas da blusa enquanto cruzava os braços.

- Diga logo o que veio fazer aqui! – vociferou.

- Não fique nervosa. Só vim me desculpar.

- Bom, se é tudo.

- O que houve Regina, onde se cortou assim?

- Não é da sua conta – disse ela dando as costas.

Sarah a segurou pelo braço e ergueu a manga. O arranhão se estendia por todo o antebraço. Pegou na outra mão da garota e procurou por mais cortes: o braço esquerdo estava com pequenos hematomas e um contorno avermelhado na forma de uma mão, como se a garota tivesse sido segurada com força. A jovem ergueu os olhos para Regina e viu que seus olhos enchiam de lágrimas.

- Quem fez isso? - a garota caiu em prantos e abraçou Sarah com força. – Vamos sair daqui – disse ela conduzindo-a até uma calçada longe dali, onde sentaram. – Agora me conte o que aconteceu.

- Por que eu deveria desabafar com você se não somos amigas?

- Seríamos se você não tivesse se tornado tão arrogante!

- Eu?!Você era a única amiga que eu tinha e quando aquela fazendeira apareceu você me esqueceu completamente!

- Isso não é verdade.

- Não é?!Nós andávamos sempre juntas até que entramos no ginásio. Muitas pessoas ficaram em salas diferentes e você caiu na daquela garota!A partir de então esqueceu que eu existia – disse ela ainda em prantos.

- Você se afastou!Eu mal te encontrava e quando nos víamos você estava sempre calada pelos cantos!

- Eu estava passando por uma fase, meu pai nos abandonou quando eu tinha onze anos sem se despedir ou deixar algum recado para mim, simplesmente sumiu – ela agora soluçava. – E minha mãe arrumou outro assim! – estalou os dedos.

Sarah ficou paralisada com os olhos arregalados.

- Foi ele que fez isso com você? Seu padrasto. Foi ele quem te machucou?

- Ele é um bêbado desequilibrado que grita o tempo inteiro e bate na minha mãe – deus algumas fungadas e enxugou as lágrimas. – Geralmente deixo eles se entenderem, mas hoje, os gritos dela me deixaram agoniada e corri para ajudá-la... – fez uma pausa para tomar fôlego, pois os soluços não a deixavam falar. -... Ele apertou meu braço e me jogou contra o chão. Quando tentei me segurar em alguma coisa, meu braço bateu na quina da mesa.

- Isso é terrível – disse Sarah com os olhos cheios de lágrimas.

- Por isso ajo daquela maneira na escola, lá é o único lugar onde sou forte, com um grupo sempre atrás de mim e pessoas que têm tanto medo que não teriam coragem para me mal tratar – a jovem ficou ereta, suspirou e enxugou as lágrimas.

- Mas isso é errado Regina, você afasta as pessoas quando deveria trazê-las para perto de você. Fazer amizades verdadeiras. Assim você teria no colégio a alegria que você não tem aqui com pessoas sempre dispostas a lhe dar um ombro amigo – fez uma pausa. – Afinal por que não denunciam esse monstro?!

- Minha mãe tem medo Sarah. Medo do que ele possa fazer.

Sra. Lima surgiu na entrada da casa e gesticulou para que Regina entrasse.

- Foi bom conversar com você – disse ela pondo-se de pé e abrindo um sorriso verdadeiro, como em muito tempo Sarah não via. – Até amanhã.

- Até – despediu-se Sarah.

Após caminhar alguns minutos até sua casa, Sarah entrou lentamente. Não havia ninguém e tudo estava um tanto escuro na sala de estar. Ela caminhou até a despensa da cozinha retirando algumas barrinhas de chocolate e um pacote de cheetos, depois subiu as escadas e entrou em seu quarto, colocando-os dentro da bolsa. Entrou no banheiro e foi escovar os dentes.

Quando terminou, abriu um sorriso exagerado para ver se estavam realmente limpos. Enquanto passava o fio dental, sentiu um arrepio se espalhar por seu corpo, seguido de sussurros que começou a ouvir. Eram os mesmos murmúrios que ouvira quando havia terminado de tomar banho durante a tarde. Balançou a cabeça como se fosse apenas uma ilusão, e continuou o que estava fazendo.

Quando as vozes começaram a ficar cada vez mais altas e insistentes ela começou a ficar nervosa. Jogou o fio dental no lixeiro e caminhou para o quarto. Lá estava o livro. As vozes ficavam cada vez mais altas como se o objeto chamasse por ela. A cada passo desconfiado seu coração batia tão rápido que lembrava o bumbar de tambores. Ela engoliu em seco e disse:

- Tá legal, agora sim está começando a me assustar.

Franziu a testa enquanto se perguntava por que ele fazia aquilo. Pegou-o e o colocou sobre o colo, o som desapareceu. Passou as mãos sobre a capa admirando seus belos desenhos e símbolos. “Gostaria de saber o que significam” – pensou.

Abriu o livro e examinou cada página com calma, como não tinha feito antes. Ao final dele ela encontrou uma frase. “Você não estava aqui antes!Pelo menos não que eu tenha notado” – disse para si mesma. Passou a mão sobre a página amarelada depois leu em voz alta:

“Uma nova esbael de outro mundo virá,

com a ajuda deste livro no tempo voltará

e quando o protetor nomear,

o guiará para ao povo ajudar.”

- Esbael? – perguntou Sarah a si mesma – Eu ein!Este livro é sinistro, tenho que me livrar dele o mais rápido possível.

A garota fechou o livro com um estalo colocando-o sobre a cama e levantando-se dela, alguns segundos depois o objeto começou a brilhar, ela apanhou a vassoura que havia deixado perto da cama, armando-se novamente. As páginas do livro começaram a se folhear sozinhas. Sarah arregalou os olhos. O objeto saltou sobre ela, que o segurou com a mão esquerda enquanto a outra tentava retirá-lo, mas estava grudado. A garota pegou a mochila e começou a bater no livro, ainda preso à sua mão esquerda, mas de nada adiantou. Ela sentiu um formigamento no pulso e depois, tudo ficou escuro.

Sarah sentia um cheiro estranho de grama molhada depois de uma chuva de inverno. Apertou os olhos ainda fechados como se estranhasse o ambiente. Foi abrindo-os aos poucos, havia um borrão em sua visão, um mesclado das cores marrom e verde. Piscou os olhos rapidamente na tentativa de tornar as imagens mais nítidas. Quando finalmente tudo em sua vista voltou ao normal, Sarah se sentou e colocou a mão sobre a cabeça, que doía de tal maneira que parecia que ela tinha levado uma pancada muito forte.

Ao deslizar a mão sobre a testa, notou um desenho estranho em seu pulso esquerdo, um desenho que se parecia com a capa do livro – a coroa no meio e sete símbolos menores ao seu redor. Arregalou os olhos e esfregou o pulso para ver se saía, mas o desenho estava tão firme que parecia uma tatuagem feita com tinta permanente. Procurando acalmar-se, ela olhou em volta. Viu diversas árvores com tamanhos variados, de trinta a quarenta metros de altura, com troncos muito grossos, galhos retorcidos e uma cor verde exuberante em suas folhas. O ambiente da floresta era um pouco úmido.

- Uma floresta?! Como eu vim parar aqui? – perguntou Sarah a si mesma. – Não é possível, isso tudo só pode ser um sonho.

Ela ouviu um barulho de galhos sendo quebrados enquanto eram arrastados e virou-se para ver o que era. A única coisa que conseguiu identificar atrás de uma das árvores foi uma pequena cauda de cor vermelho fogo. Sua respiração acelerou e seu coração estava prestes a sair pela boca a qualquer momento.

- Eu não vou ficar aqui para descobrir. – murmurou.

Sarah ficou rapidamente de pé e apanhou a mochila e o livro, que estavam ao seu lado. Colocou o objeto dentro da bolsa e saiu correndo floresta adentro. Por mais que ela se distanciasse, o barulho se aproximava de novo a uma velocidade surpreendente. Sarah não fazia idéia de onde estava, só via árvores e mais árvores em seu caminho, decidiu correr em linha reta sem olhar para trás “Quem sabe assim chegarei ao final da floresta” – pensou.

Depois de uns quinze minutos que pareceram horas, ela começou a ouvir o barulho de uma corredeira, fez uma pausa, estava ofegante por causa de sua corrida frenética. Olhou ao redor procurando ver de onde vinha aquele som. Optou por pegar o caminho da direita e correu novamente por entre as árvores, até que finalmente avistou um riacho ao longe. Ela fez uma pequena pausa, sorriu e continuou o seu percurso.

Pisou nas águas do rio e continuou a correr, mas houve um momento que ela não saia do lugar e era como se estivesse deslizando, tentou equilibrar-se, mas a pedra em que estava era muito escorregadia. Sarah cedeu e sentiu uma dor sufocante percorrer sua espinha, prendeu a respiração instintivamente na tentativa de diminuir o sofrimento. O barulho que ela havia deixado para trás agora se aproximava, o medo tomou conta de seu ser, a dor era tanta que ela não conseguia pôr-se de pé. Sentia a água do riacho tocar em seu rosto enquanto batia na pedra em que ela estava deitada.

Apertou a mão direita que segurava a mochila, para que sua fraqueza não a deixasse escapar. Respirou fundo e tentou se sentar, suas costas e seu cabelo estavam molhados. O som assustador estava perto agora, ela podia sentir. Virou a cabeça para a direção do barulho e alguma coisa começou a surgir por entre as árvores, até que a imagem de uma cobra gigante surgiu. O animal deveria ter no mínimo uns vinte metros de comprimento, tinha a cor vermelho fogo, com alguns círculos pequenos de cor laranja que se espalhavam por sua pele escamosa e dois pequenos espinhos na ponta do nariz.

Sarah ficou paralisada, não podia correr mesmo que esta fosse a sua vontade. O animal serpenteou em sua direção, atravessando o riacho. A jovem sentiu como se algo invadisse a privacidade de sua mente, a cobra gigante a encarava com os olhos apertados, mas não demonstrava nenhuma reação de que iria atacar. Seus pensamentos estavam confusos, lembranças de sua infância, de seu sonho e de como tinha encontrado o livro passavam rapidamente em sua cabeça à medida que a criatura gigante se aproximava dela.

A cobra estava muito perto agora, e Sarah podia sentir o hálito quente da criatura envolver seu rosto. Fechou os olhos procurando controlar o medo que sentia naquele momento. Suas lembranças começaram a passar mais lentamente, até que cessaram.

A jovem sentiu a respiração da criatura desaparecer, depois ouviu um barulho atravessar o riacho e se enfiar no meio da floresta. Abriu os olhos e a serpente gigante havia desaparecido. Uma sensação de alívio tomou conta de seu ser. Colocou a mochila nas costas e virou-se para o caminho contrário ao que a criatura havia tomado.

Deu um salto ao ver sete pessoas estranhas vestidas em roupas pequenas. Estavam armadas com adagas e algumas delas com seus arcos e flechas. Todos tinham cabelos escuros como a noite e olhos de cor vermelho rubi. Uma mulher que estava no grupo se aproximou – seu olhar era penetrante, usava uma blusa marrom enfeitada com algumas folhas que deixava sua barriga magra a mostra, usava também um shorte curto que acompanhava a blusa, e botas de cor marrom feitas de couro, além de uma pintura azul bem exótica no rosto.

A mulher colocou a ponta de sua adaga no pescoço de Sarah, estudando-a. Ela franziu a testa e falou para os companheiros:

- Ko odes nod uden? (De onde ela saiu?) – olhou para a garota de cima à baixo e sorriu – Wos rothas udenmajis (Que roupas estranhas) – os companheiros riram.

- Y wos va danieb wos goth lon mod? – vociferou uma das pessoas do grupo.

A mulher pegou Sarah pelos ombros e girou-a de modo que ficasse de costas para ela, puxando bruscamente a mochila.

- Hei! – gritou a garota – Me devolva isso! – deu um passo para frente, mas recuou quando várias flechas foram apontadas para ela.

A estranha guardou a adaga em sua cintura e segurou a mochila em cada uma de suas extremidades, puxando com força na tentativa de abri-la. Sarah riu e tentou tocar na bolsa, mas novamente flechas foram apontadas para ela. A garota olhou bem no fundo dos olhos da mulher e disse:

- Eu não vou te machucar.

A mulher apertou seus olhos vermelhos com desconfiança, em seguida virou a cabeça para os companheiros e balançou-a em sinal positivo. Imediatamente, todos abaixaram suas armas. Sarah pegou a mochila e abriu o zíper do bolso maior, entregando-a para a mulher, que sorriu impressionada com a facilidade com a qual a jovem tinha aberto aquele objeto tão estranho para ela.

Ela enfiou a mão dentro do bolso e começou a vasculhar os objetos, enquanto retirava-os e lançava aos companheiros coisas como: as barrinhas de chocolate, balas de hortelã e o pacote de cheetos que Sarah havia guardado para levar à escola no dia seguinte. Um tempo depois, a mulher parou de mexer nas coisas e arregalou seus olhos brilhantes virando-os para Sarah.

A estranha fechou o zíper do bolso e atirou a mochila para os companheiros, em seguida pegou Sarah pelo braço direito e foi passando a mão por ele, a procura de algo. Pegou o punho esquerdo e analisou-o até que viu o símbolo estampado em seu pulso. A mulher recuou e colocou uma das mãos sobre a boca como se tivesse se assustado com a tatuagem da garota. As outras pessoas do grupo, que a acompanhavam, começaram a sussurrar entre si ao ver o desenho: rogesh.

- Me waldir tiras-ko odes mod o vandar.

Ao dizer isso duas pessoas do grupo caminharam até Sarah e a seguraram pelos braços, arrastando-a para o caminho que a cobra havia tomado. A garota entrou em pânico e começou a firmar os pés no chão, lutando contra as pessoas estranhas.

- Não! – gritava ela – Tem um monstro aí dentro e acreditem, eu não estou nem um pouco a fim de ser comida!

- Cale-se humana! – disse a mulher.

Sarah lançou-lhe um olhar de surpresa.

- Quem são vocês? – indagou a garota lentamente.

- Nada de informações por enquanto, apenas confie em nós.

Sarah olhou para o chão, pensativa. Ela parou de lutar contra os seres estranhos e deixou que a levassem, caminhando floresta adentro. Algumas das pessoas do grupo os seguiam enquanto andavam de costas, armados com seus arcos e adagas, como se protegessem algo muito importante. Enfim, pararam de andar ao chegarem a uma árvore que aparentava ter uns sessenta metros de altura – era a maior em toda a floresta.

A mulher se aproximou da árvore e deu três batidas nela, uma escada feita de corda e um pouco de madeira – que formava os degraus – foi lançada. Ela se virou para os dois homens que seguravam Sarah e gesticulou com a mão. Eles a levaram para a escada e mandaram que ela subisse.

Sarah segurou-se nas extremidades da escada bamba e frágil, e começou a subir até o topo. A garota virou-se e olhou para baixo, avistando a mulher logo atrás dela, depois, continuou seu percurso. Ao chegar ao topo, Sarah viu uma enorme casa construída sobre a árvore. Na entrada dela havia dois homens vestidos exatamente iguais aos companheiros da mulher, a única diferença é que eles seguravam uma lança enorme – cada um – feita de madeira com uma adaga presa no final, que formava a ponta da lança.

Ela ficou deslumbrada com a construção. Era simples, mas muito bonita. O chão era feito de tábuas de madeira que pareciam ter sido feitas à mão, além de serem desgastadas e polidas por constantes passadas. Sarah observava tudo nos mínimos detalhes, até que a mulher finalmente chegou ao topo. A estranha segurou em seu ombro e a conduziu para um portão a uns dois metros de distância de onde elas estavam.

Na frente do portão havia uma mulher com características semelhantes a que a acompanhava, mas linhas espalhadas por seu rosto e alguns pés de galinha em seus olhos diziam que ela era mais velha. A mulher se aproximou.

- Wos waron? (O que quer?) – indagou.

- Eteri agu tui vreon algos. (Estou aqui para ver nosso líder)

A mulher mais velha olhou para Sarah franzindo a testa. Depois, afastou-se do portão de madeira esculpida com alguns desenhos e gesticulou, abrindo o caminho para que pudessem passar. A acompanhante de Sarah empurrou o portão e ambas entraram.

A jovem pôde ver não muito distante, uma cadeira com um encosto grande feito de madeira e um homem sentado nela inclinado para frente apoiando o rosto sobre uma das mãos. Ele usava uma fita de couro ao redor da cabeça que o destacava dos demais, e sua pele era limpa sem qualquer sinal de rugas ou cicatrizes - ele aparentava ter uns vinte e poucos anos. Elas se aproximaram, Sarah viu a mulher ajoelhando-se e fez o mesmo. A desconhecida olhou para o chão e disse:

- Far gol, vassildador lars aesire ne forthiron.

O homem se levantou calmamente de seu trono rústico e se aproximou das duas. Sarah ergueu a cabeça com curiosidade para ver o que ele iria fazer. Ele tocou no ombro da mulher e ela ficou de pé. Olhando-o com respeito disse:

- Thirieri wos ek porth bre rogesh.

O homem virou a cabeça rapidamente para a mulher repetindo: rogesh? .Quando ela balançou a cabeça afirmativamente, ele arregalou os olhos, espantado.

- Ador valesh wos gloin lo melka novas.

A mulher fez uma reverência e se retirou. Sarah permanecia ajoelhada. O homem deu as costas para ela e sentou-se novamente em seu trono.

- Pode levantar-se.

Sarah obedeceu.

- Então você é a nova Esbael? – perguntou ele educadamente enquanto descia os degraus que iam de encontro a sua cadeira rústica.

- Agora que o senhor mencionou, eu realmente gostaria de saber o que é isso.

- Então você não é a Esbael?

- Não sei responder – respondeu ela calmamente – Primeiro eu tive um sonho esquisito com uma mulher sendo perseguida que carregava um livro estranho que por coincidência, acabou caindo em minhas mãos. Este objeto estranho pulou em cima de mim e me deixou inconsciente. Quando eu acordei, estava nessa floresta com uma tatuagem esquisita no pulso, com uma cobra gigante atrás de mim e quando pensei que tivesse me livrado de tudo, um monte de pessoas armadas estavam atrás de mim. – disse ela freneticamente.

- O que é uma tatuagem? – perguntou o rei calmamente.

- Tá brincando né? – disse ela com um sorriso irônico, mas ao perceber que o homem realmente não sabia o que era, pôs-se a explicar: – Uma tatuagem é um desenho que você faz no corpo entende?

- Entendo, deixe-me ver a sua “tatuagem” – disse ele estendendo a mão.

Sarah se aproximou dele e estendeu o pulso esquerdo. O homem passou a mão sobre o desenho e disse:

– Parece-me que ainda não sabia, mas você é sim, a nova Esbael. Você é muito importante para a proteção do livro de pórion e para todos nós.

- Livro de pórion?Tá falando daquele livro esquisito que fez esse desenho no meu pulso?

- Isso mesmo, Você o tem aqui com você?

- Está guardado na minha bolsa, que está com alguma das pessoas que me pegaram na floresta. – respondeu Sarah.

- Guarde este livro com a sua vida! – disse o homem, mudando rapidamente o tom de voz doce para um mais sério. – Ele não pode cair em mãos erradas está entendendo?

Sarah se assustou, mas balançou positivamente a cabeça.

- Este objeto é o mapa para os quatro artefatos de pórion e você é a guardiã deste mapa.

- Eu tô ficando confusa, poderia me explicar o que está acontecendo?Quem são vocês?O que é uma Esbael? Que artefatos são esses? E quem são as pessoas que não podem pegar o livro?

- Tenha calma, irei responder a cada uma de suas perguntas. – Ele caminhou até ela e a conduziu para uma porta que ficava a esquerda dele. – Vamos para um lugar onde possamos conversar com mais conforto.

Ao ultrapassarem a porta, entraram em uma sala onde havia uma mesa quadrada com quatro cadeiras ao redor. A sala era iluminada por duas janelas e através delas, podiam ver a floresta por onde Sarah havia passado. O homem gesticulou para que a garota se acomodasse em uma das cadeiras, em seguida sentou-se também.

- Então, o que quer saber? – perguntou ele cruzando os dedos de forma que as palmas das mãos se encontraram.

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