Cada vez que bebia o líquido, imagens de seu sonho surgiam
Sarah terminou sua bebida, molhou o copo na torneira e o guardou dentro do armário. Depois, caminhou a passos lentos até seu quarto, mergulhando sobre a cama e agarrando o travesseiro. Levou algum tempo para que sua mente, infestada de pensamentos, finalmente se acalmasse, e então, adormeceu.
Tomou um susto, na manhã seguinte, ao ouvir o som escandaloso que o despertador emitia. Ela estendeu a mão e o desligou, sentando-se calmamente e esfregando os olhos enquanto sentia o calor dos raios do sol, que invadiam o cômodo através da janela de vidro, tocar-lhe o rosto. A jovem bocejou ao observar o uniforme do colégio sobre a mesa. Com muita determinação, pôs-se de pé e caminhou até o banheiro, onde apoiou as mãos sobre a pia, inclinando-se para frente enquanto se olhava no espelho: o rosto inchado e as olheiras profundas que contornavam seus olhos eram as marcas da noite mal dormida.
Sarah retirou suas vestes e entrou no Box, onde ligou o chuveiro. A água gelada que escorria por seu corpo moreno, tirava-lhe o fôlego. O silêncio presente no ambiente era quebrado por sua respiração acelerada. O banho a deixava muito menos agitada do que estava e, aos poucos, as lembranças do sonho começavam a esvaecer. Quando terminou, envolveu-se em uma toalha e foi até o quarto enquanto penteava os cabelos com um pente fino. Depois vestiu o uniforme, pegou a mochila e saiu.
Ao descer as escadas, viu a mãe – uma mulher elegante com cabelos negros e curtos, que aparentava ter menos de quarenta anos – sentada no lugar de sempre. O pai – homem de negócios que passava a maior parte do tempo vestindo um terno, pois nunca parava de trabalhar, tinha cabelos castanhos e uma barba que seguia o molde de seu rosto – bem ao lado dela, e seu irmão – era idêntico ao pai, só que muito mais jovem e não tinha barba – em frente.
- Bom dia querida – disse Laiza.
- Este país está errado! – disse Rafael, fazendo uma pausa para cumprimentar a filha. – É um país sem o mínimo de interesse de investir em educação, endividado, tremendamente violento e onde a desigualdade social extrapola todos os limites!
A mesa era larga e havia uma grande variedade de comidas. Havia pães guardados em uma cestinha feita com leves tiras de madeira de cor escura e dois potes pequenos com geléias de morango e uva. Uma jarra com suco de maracujá e uma com água ficavam no centro, ao lado de uma garrafa térmica que continha café. Frutas de todos os tipos ficavam sobre uma fruteira ao lado da manteiga e do requeijão. Sarah puxou uma cadeira e se acomodou, enquanto ouvia o pai criticar o governo do país. Ela pegou a xícara e o pires, que estavam sobre seu prato, e os colocou a certa distância. Depois, pegou um pão no monte da cestinha e o cortou, passando um pouco de geléia por dentro. Em seguida, encheu seu copo com água e deu uma mordida no pão.
- Concordo com você pai – disse Mick, seu irmão mais velho. – E o pior de tudo não é isso, é que por mais que saibamos que tudo precisa de conserto, ainda assim, as pessoas continuam colocando o mesmo incompetente para governar o país.
- É por isso que eu digo: O povo gosta de ser enganado!
Quando terminou a metade do pão, observou que o relógio preso à parede marcava seis e quarenta e cinco, o que significava que faltavam apenas cinco minutos para que seu ônibus chegasse. Sarah largou a comida sobre o prato e bebeu a água rapidamente enquanto ainda escutava as críticas do pai sobre o mesmo tema. Aquela conversa todas as manhãs sobre política durante as refeições a entediava, mas ela não podia deixar de concordar com a forma com a qual seu pai e seu irmão pensavam.
- Bom, a conversa está boa, mas tenho que ir ou me atrasarei para a faculdade. – despediu-se Mick dando um beijo na mãe e passando a mão sobre a cabeça da irmã.
Sarah ficou de pé rapidamente e, olhando mais uma vez para o relógio, colocou um biscoito na boca e disse:
- Também tenho que ir, acordei tarde e vou acabar me atrasando. Tchau pai, tchau mãe – retirou-se, ignorando as reclamações da mãe sobre o pão que deixara no prato.
A jovem pegou a mochila que havia deixado sobre o sofá e saiu pela porta da frente. Passeou pela calçada durante os minutos que seguiam sua ansiedade, e então, o ônibus surgiu. Sarah subiu os degraus e caminhou até o final do veículo, sentando-se ao lado de sua melhor amiga, Karina – a garota usava uns óculos com lentes bem grossas "fundo de garrafa" e passava a maior parte do tempo com os cabelos loiros presos – formando um rabo de cavalo bem folgado. Tais características faziam dela uma garota esquisita e feia, mas com um coração enorme.
Era de costume que a jovem sentasse no final do automóvel e conversasse com a amiga durante o percurso para o colégio, pois assim, evitavam ao máximo os comentários sarcásticos freqüentemente direcionados a elas pelos colegas. Apesar de serem motivo de piada para os alunos, ainda assim eram felizes por terem a amizade uma da outra.
- O que houve com você? – indagou Karina. – Parece cansada.
- Não foi nada, só tive um sonho um tanto estranho na noite passada e acabe... – foi interrompida por uma bolinha de papel que acertara os óculos de Karina.
- Hei fazendeira! – gritou uma jovem em um grupo composto por garotas magras e bonitas que usavam uma variedade de agasalhos em um tom cor de rosa. – Por que essa blusa molhada?Esqueceu de se trocar quando regou a horta? – disse ela enquanto ouvia as amigas rirem de sua imitação caipira.
Karina ajeitou os óculos que escorregavam pelo nariz e apertou os livros enquanto se encolhia no banco. Sarah respirou fundo, tentando controlar sua raiva, e encarou a patricinha arrogante, depois se voltou para a amiga e perguntou se estava tudo bem, ela assentiu. Sarah segurou-se no banco ao sentir a brecada violenta que o ônibus havia dado e desviou seus olhos para o chão, quando algo lhe tocou os pés. Ela franziu a testa e abaixou as mãos procurando alcançar o objeto.
- O que é isto? – indagou enquanto o colocava sobre as pernas.
- Que pano velho – comentou Karina.
Sarah retirou o pano que envolvia o objeto retangular e viu que era um livro, que por alguma razão lhe parecia familiar, fechou os olhos na tentativa de se lembrar de algo. “Meu sonho!” – pensou. A jovem ficou pálida e hipnotizada ao mesmo tempo, um calafrio percorreu o seu corpo. Mais perguntas além das outras antes semeadas surgiram em sua mente: “Se o meu sonho era no passado, o que este objeto do passado faz em meu tempo?” – perguntou para si mesma – “Não, deve ser só uma coincidência”.
- O que foi?
- N-nada – gaguejou Sarah fazendo uma pausa – Se este livro está aqui no ônibus é porque alguém da escola o pegou, e como não sei quem foi acho melhor levar para a biblioteca do colégio.
- Depois você resolve isso.
- OK.
O ônibus enfim, havia chegado a seu destino. Karina e Sarah esperaram todos descerem do veículo, para que não corressem o risco de serem empurradas para fora, como era de costume.
Ao descerem, se dirigiram para a entrada da escola e caminharam por um enorme corredor repleto de portas e com armários encostados à parede. Sarah abriu o seu e guardou o livro que havia encontrado no automóvel, caminhando em seguida para sua sala. Acomodou-se em uma das bancas e retirou um caderno grosso e um estojo pequeno da mochila, ao ver o professor de história entrar. Ele era de tamanho médio e um pouco calvo, com pequenos vestígios de cabelos grisalhos nas laterais da cabeça – era com certeza o melhor professor que Sarah tinha e ela sempre aguardava ansiosamente por uma aula dele.
De alguma forma, os acontecimentos recentes tiravam sua concentração e, aos poucos, todos os sons ao seu redor começavam a desaparecer. A jovem apoiou o queixo sobre a mão e olhou através da janela enquanto pensava sobre o livro e sobre seu sonho com a mulher na noite passada. As folhas de uma árvore, que podia ser vista através da janela, se desprendiam dos galhos e o vento as carregava para longe, lentamente. Cada minuto ali parecia uma eternidade e a pouca paciência que ela tinha já havia se esgotado. Muito tempo havia se passado até que a sirene, anunciando o intervalo, ecoasse pelo corredor.
Sarah pegou seu material e guardou novamente na mochila. Ela ficou de pé e foi até o armário, destrancando-o e retirando o livro, depois, caminhou até o final do corredor e entrou na biblioteca que ficava próxima a sala da diretoria. Ela andou até o balcão de recepção:
- Com licença, achei este livro no ônibus da escola – disse ela enquanto colocava o objeto sobre o balcão.
A bibliotecária pegou o artefato com seus dedos branquelos e ossudos, analisando-o de todos os ângulos possíveis, através das lentes de seus óculos em meia lua. Tocou na capa e deslizou a mão até passá-la, folheando as páginas amareladas cuja grande maioria encontrava-se estragada, e assustou-se.
- Nunca vi este livro por aqui antes! – disse ela passando o objeto para Sarah.
- Como assim?Eu o encontrei no chão do ônibus!
- Tenho certeza de que este livro não nos pertence, a julgar pela capa e pelas páginas amareladas e até estragadas, diria que ou ele é muito antigo ou foi conservado inadequadamente. Olhe só para estas páginas!Nossa biblioteca cuida de livros e não os destrói!
- Entendo.
- Alguém deve tê-lo perdido dentro do veículo.
- Você teria algum dado que possa me informar um pouco mais sobre este livro?
- Se ele tiver um título posso pesquisá-lo para você.
Sarah procurou na capa, depois o abriu olhando as páginas e a contra capa, mas não havia nada. Ela olhou para a bibliotecária e balançou a cabeça em sinal negativo.
- Então sinto muito, não há nada que eu possa fazer para ajudá-la. Agora se me der licença, tenho muito trabalho a fazer – disse ela abaixando a cabeça e observando a jovem por cima das lentes. – Hei você! – sussurrou em tom de reprovação enquanto caminhava até um rapaz que falava com um colega. – A biblioteca não é lugar para conversas se não se acalmarem, vou pedir para que se retirem.
Sarah pegou o artefato e o colocou debaixo do braço, caminhando lentamente para fora da biblioteca. Ergueu o livro na altura da cintura acariciando-o com o polegar sem prestar atenção aonde estava indo. O objeto a deixava perturbada. Era como se o fato – de o livro estar em seu sonho e não ter um dono, estando agora em suas mãos. – estivesse de alguma forma, ligado a ela. Em uma fração de segundos, sentiu uma brisa escorregar por entre seus dedos e o objeto desapareceu de suas mãos. Em um ato de desespero, Sarah moveu a cabeça em todas as direções até pousá-la na garota que zombara de Karina, sua inimiga desde a quarta série, Regina.
Os cabelos castanhos e lisos ficavam presos por detrás das orelhas e seus olhos verdes-esmeralda davam um brilho incomum a seu rosto delicado, mas a jovem era dona de uma expressão sarcástica. Ela e suas amigas – que vestiam casacos cor-de-rosa – eram tão magras que pareciam praticar bulimia, eram jovens insuportáveis cujo passatempo era atormentar pessoas mais humildes ou mais mal arrumadas do que elas. Regina não foi sempre assim, quando eram crianças, ela costumava freqüentar a casa de Sarah pra que as duas pudessem brincar juntas, mas de alguma forma, seu jeito havia mudado completamente e ela tinha se tornado uma pessoa fútil que se achava superior a todos. Mesmo diante de provocações, Sarah procurava controlar sua raiva, pois lá no fundo, acreditava que ela poderia tomar consciência e se desculpar algum dia.
Regina segurou o livro em mãos e folheou suas páginas, ignorando os pedidos veementes da rival para que o devolvesse. A jovem estendeu o objeto e, com desconfiança, Sarah tentou agarrá-lo, mas Regina o puxou rapidamente e deu um sorriso irônico enquanto ouvia as gargalhadas das colegas.
- Eu sabia que você tinha virado uma esquisita ao se tornar amiga da fazendeira, mas não a ponto de colecionar antiguidades como esta – disse ela sorrindo maliciosamente.
Sarah não agüentava mais ser tratada como lixo por aquelas garotas, estúpidas e mimadas. Suas pernas tremiam, suas mãos estavam geladas e sua respiração acelerada, como se a raiva por tudo aquilo que Regina havia feito a ela e a Karina durante os cinco anos desde que viraram inimigas estivesse serpenteando por seu corpo. Apertou os punhos, tentando controlar suas emoções. Sua vontade naquele momento era bater ou chorar, mas sabia que seria insano de sua parte atacar Regina e que chorar seria um convite para mais zombarias.
- Ôuu – disse Regina se aproximando e, fazendo um biquinho, disse: - Vai chorar?
Era a gota d’água. Sarah não podia agüentar mais. Abriu os punhos e correu em direção a Regina, lançando-a contra o chão. Sua mente estava em branco naquele momento e ela segurou os cabelos da rival que instintivamente abriu um berro ao ter a impressão de que seriam arrancados do couro cabeludo. As garotas do grupo se afastaram, boquiabertas.
- Saia de cima de mim sua louca! – berrou Regina.
- Você acha legal menosprezar as pessoas, acha? – disse Sarah puxando mais ainda os fios da rival enquanto os músculos de seu rosto se contorciam.
- Agora chega!
Regina largou o livro e colocou as mãos sobre os pulsos de Sarah, empurrando os braços da jovem durante a inútil tentativa de se libertar. Rugas brotavam entre as sobrancelhas da garota e seu rosto, aos poucos, perdia a palidez e adquiria um tom avermelhado devido à força usada. Não demorou muito para que um círculo se formasse em torno da briga. Ela girou as pernas ao mesmo tempo em que empurrava Sarah para o lado, subindo com rapidez sobre sua oponente. Regina estava distraída quando sentiu um forte impacto atingir seu rosto, fazendo com que caísse no chão. A jovem já se preparava para revidar quando o diretor chegou.
- O que é que está acontecendo aqui? – indagou ele em um tom de voz rouco.
Karina abriu caminho na roda e correu de encontro à amiga. Ajudando-a se levantar. Sarah apanhou o livro no momento em que ficava de pé, observando a rival por um curto espaço de tempo.
- Vamos! Eu quero uma resposta!
- Essa louca me atacou! – respondeu Regina.
O diretor se voltou para a garota.
- Sarah Rodrigues, para a diretoria – ordenou ele, gesticulando.
Ela abaixou a cabeça e sem questionar, caminhou até a sala. Ao entrar, acomodou-se em uma cadeira estofada e observou a plaquinha escrita: Diretor Antonio Oliveira. O homem caminhou para trás de sua escrivaninha, sentando em sua poltrona e apoiando-se sobre a mesa enquanto cruzava os dedos. Seus olhos castanhos e serenos a analisavam por detrás das lentes de seus óculos, como se aguardassem por uma resposta.
- Eu nunca imaginei que uma pessoa boa como você e uma aluna exemplar, fosse capaz de um ato tão impetuoso – disse ele com sua voz grave e tranqüila. – Este é o primeiro dia de aula depois de um mês de férias e você já movimentou a escola.
- Eu não agüentava mais, ela não para de zombar de Karina e fica me provocando o tempo inteiro – defendeu-se. – Desde que eu tinha dez anos agüento essa idiota...
- Cuidado com as palavras Sarah – ele advertiu.
- Desculpe, mas não deu mais pra segurar!
- Eu sei que deve ter sido difícil. De qualquer forma não posso interceder por você... – fez uma pausa. – Devo cumprir meu dever e, como foi você quem começou a brigar, vou ligar para seus pais.
- Mas senhor...
- Sem mas Sarah – interrompeu. – Vá buscar suas coisas e volte.
- Sim senhor.
Sarah ficou de pé, saiu da diretoria e caminhou pelo corredor. Ao entrar na sala, os olhares dos colegas se voltaram para ela, inclusive o de Regina, mas não era de felicidade ou de ironia, muito pelo contrário. Era um olhar de arrependimento que rapidamente foi desviado para a banca onde ela estava sentada. Sarah apanhou sua mochila e se retirou sob murmúrios:
- Se deu mal.
- Acho que ela vai ser expulsa!
- Coitadinha, não merece isso.
A jovem se sentia aliviada de finalmente, depois de tanto tempo, ter tirado um peso de seus ombros, mas não podia deixar de pensar no que seus pais fariam com ela. Entrou na diretoria e se acomodou em um sofá próximo a uma instante de livros. Durante os minutos que se estenderam, o cansaço da noite passada se acumulava e então, acabou pegando no sono. Sentiu algo chacoalhando seu corpo de forma suave e, ao abrir os olhos, lá estava sua mãe.
- Vamos querida – disse ela, virando-se para o diretor e estendendo a mão para que ele apertasse. – Obrigada Antonio.
- Não tem de que Sra. Rodrigues.
- Até logo – disse ela.
Laiza colocou a mão no ombro da filha e a conduziu para a saída. Ao entrarem no carro, Sarah colocou o cinto de segurança e encostou a cabeça na janela, com a mochila sobre as pernas. O carro andou pela avenida até chegar à orla da praia. O mar estava com a maré cheia e a jovem pôde ver as ondas colidirem com a areia, e erguerem-se alguns centímetros, mostrando a cor azul piscina que se misturava com um tom verde claro. De certa forma, o movimento constante das ondas trazia-lhe uma paz interior. O silêncio pairava no ar, até que o carro parou em um semáforo e Laiza disse:
- Eu não acredito que depois do jeito que criei você, de tudo o que ensinei... – fez uma pausa enquanto olhava para a filha. -... Você demorou tanto tempo assim para dar um corretivo nessa garota.
Sarah desencostou-se da porta, franzindo a testa ao observar a mãe.
- Quer dizer que não está brava?
- Claro que não – ela respondeu. – Você nunca mais tinha mencionado essa garota então pensei que ela tivesse te deixado em paz porque talvez você tivesse dado um basta nas provocações dela – o sinal ficou verde e ela colocou o veículo para andar. – Mas nunca teria imaginado que você colocaria um fim nisso de uma forma tão brutal. Violência não leva a nada filha.
- Sei disso mãe, fiz sem pensar, mas me arrependi depois.
- Bem, se realmente se arrependeu, vá se desculpar com ela.
- O que?!
- Você me ouviu. Você já mostrou para ela que paciência tem limite e que você não é um cachorrinho para ela fazer o que bem entender. Agora, tem que mostrar que é superior e civilizada – inclinou um pouco a cabeça para o lado. – Civilizada vai ser meio difícil, mas... – sussurrou.
- Como quiser.
Viraram numa rua feita de calcário e Laiza estacionou o carro na frente de sua casa, que tinha um portão eletrônico e um muro de cor amarela. Sarah deu um beijo na bochecha da mãe e saiu. Ao abrir o portão, Átila, seu golden retriever, veio recepcioná-la. Ela caminhou pelo jardim gramíneo e abriu a porta de correr que levava para a sala, onde havia um sofá de cor laranja e duas poltronas que seguiam o mesmo padrão. Em frente a eles havia uma televisão de plasma presa à parede com um pequeno móvel – abaixo dela. – que abrigava o aparelho de DVD e um aparelho de som. Subiu as escadas com Átila logo atrás. Ao entrar no quarto, colocou a mochila ao lado da cama e mergulhou sobre o colchão.
- Venha cá rapaz – disse ela batendo na cama para que ele subisse.
Sarah marcou o despertador para as treze horas e, Átila deitou a cabeça sobre a barriga dela, acompanhando o movimento de sua respiração. Não demorou muito para que ambos adormecessem. O despertador soou e, na tentativa de desligar, ela o derrubou no chão. Seu cão deu um salto da cama e foi embora. Sarah se espreguiçou e olhou em volta do quarto, suas pálpebras estavam pesadas demais para que ela se levantasse naquele momento. Mudou de posição e voltou a dormir. Depois de muito tempo, que passou voando, a jovem ficou de pé e caminhou até o banheiro, onde se despiu e entrou no Box.
Ao terminar o banho, Sarah teve a impressão de ter ouvido sussurros. Franziu a testa, procurando a fonte das vozes, depois sacudiu a cabeça, envolveu-se em uma toalha e caminhou até o balcão da pia, onde pegou um pente. Os murmúrios ficavam cada vez mais altos e a jovem começou a ficar perturbada. “Será que tem alguém no meu quarto?” – pensou. Apanhou uma vassoura que ficava atrás da porta do banheiro e caminhou calmamente até a maçaneta. Seu coração batia tão rápido que mal conseguia respirar. Apertava tão forte a vassoura que as pontas de seus dedos ficaram brancas. Abriu a porta – de um jeito tão rápido que produziu uma leve brisa, que beijou seu rosto – e ergueu a vassoura sobre a cabeça.
Ela se surpreendeu ao ver que o quarto estava vazio, mas ainda assim, as vozes persistiam. Sarah caminhou pelo quarto e notou que os sussurros vinham de sua mochila. Apoiou a vassoura na cama e abriu a bolsa, no momento em que os murmúrios desapareceram. Apanhou o livro e pegou um bolo de páginas, folheando-o. Cada uma delas parecia estar em branco, sem nenhuma palavra ou desenho que o caracterizasse. Apertou os olhos e fechou o artefato com um estalo enquanto se recordava de tudo o que havia lhe acontecido. “Isso é muito estranho, um sonho no passado com uma mulher estranha e um livro mais ainda, e de repente, este livro vem parar em minhas mãos sem dono algum” – pensou. – “E aquelas criaturas? E a mulher? Quem eram? Nunca tive sonhos como este antes”.
Suas perguntas continuavam sem respostas, a jovem tentava não pensar no assunto, mas aquelas estranhas coincidências não permitiam que as lembranças deixassem sua mente. Jogou o objeto sobre a cama e foi até o guarda-roupa retirando uma blusa regata preta e uma bermuda que ia até os joelhos, colocando sobre a cama.
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